UED – Texto Introdutório

Publicado: 3 de junho de 2022 em Uncategorized

Neve cai lentamente no meio da densa floresta congelada. A neblina não ajuda em nada, fazendo o campo de visão através do visor do traje blindado ser quase nula, não mais que 9 metros adiante, mas a IA de Regina continua apontando a marca designada 300 metros adiante. O Grupo de 4 pessoas avança pela neve em seus trajes de proteção, enquanto o medidor de temperatura do traje de Regina marca “-58º Celsius”.  Todos avançam em silêncio pela neblina, cada um cuidando o máximo para continuar vendo os outros, com Regina na frente, e seus três companheiros logo atrás, em uma formação diamante.

Eles seguem vários metros na densa neve, protegidos pelos seus trajes, até a entrada de uma grande caverna na base de uma montanha. 

Antes que Regina possa falar algo, Klaus para, levantando o braço direito e falando pelos comunicadores.

  • Parem.

Ele examina uma árvore ao seu lado, observando uma espécie de adaga grosseira e primitiva, cheia de entalhes e com o cabo de couro de urso. Ele arranca a adaga da árvore e mostra aos outros.

  • Os Renegados estão perto, Regina. – Ele examina a marca deixada na árvore – Não mais que 2 dias que essa faca foi cravada aqui. Eles estão por aqui com certeza.

Regina examina a adaga e responde: Se eles soubessem que estamos aqui, já teriam nos atacado. 

  • Puta merda, ainda mais essa! – diz a moça do lado de Klaus – já não basta as ravinas, a neblina, os mamutes e agora , Renegados! Essa missão está ficando mais e mais merda, Capitã.
  • Quieta, Krys! Essa missão é importante, e estamos todos vivos. Deixa de reclamar por um instante. 

O rapaz no final do grupo dá uma risadinha através do alto falante do traje:

  • É só o que ela sabe fazer, Capitã.
  • Vá se foder, Max! – responde Krys.
  • Quietos! Adiante Runners, temos uma missão a cumprir! – diz a capitã Regina, terminando a discussão.

Eles entram na caverna escura, apenas iluminada pelos canhões de luz dos trajes e armamentos dos Runners. As paredes, de rocha crua, são adornadas por uma vegetação que cresceu lá há anos, tapando quase toda extensão das mesmas. Porém, em certos pontos, pode-se ver marcas verdes pulsantes, indicando que ali há algum traço do maquinário dos Invasores do nosso mundo.

Max remove as vinhas de uma das paredes, e para sua surpresa, uma imagem incrustada na pedra faz ele engolir em seco. Sem coragem nem para gritar, ele fica estagnado olhando aquela forma, provavelmente esculpida por um humano, mostrando o desenho de uma Sonda Invasora , até que a voz metálica vinda do traje de Klaus o chama:

  • MAX! Vem logo!

Max balança a cabeça rapidamente, como se expulsasse de sua mente as imagens terríveis do ataque que eles sofreram mês passado. Ele corre para alcançar o resto do grupo, que está alguns metros mais adiante parado perto de alguma coisa que pulsa em verde, ao lado de algo que parece ser uma rocha congelada. Na frente deles, uma segunda entrada, desta vez perfeitamente quadrada, e coberta de neve.

Todos ficam de frente à entrada, estagnados.  Klaus olha o pulsar na parede, e, limpando a vegetação, mostra um mecanismo de metal negro com várias runas pulsando em verde. 

  • Parece algum tipo de sensor.

Krys, por outro lado, examina junto com Regina o bloco de neve do lado do portal. 

  • Ozzy, analise esse bloco – ela fala baixinho dentro de seu traje.

Uma voz sintetizada, extremamente parecida com a voz de um famoso cantor de Hard Rock da era antiga, responde:

  • Minha Garota… detecto ligas metálicas coerentes com formato de um traje de exploração da UED Padrão. A análise do Bioscanner indica que dentro do traje há um corpo congelado, morto! Quem podemos colocar no caso?  Precisamos de Perry Mason! – Diz a voz.
  • Beleza… era só o que faltava – Diz Krys, em voz alta. – Capitã, acho que encontramos Forrest Gump.
  • Quem é esse? – Pergunta Max.
  • Um Runner do aglomerado de Jynx – responde Regina. – Eles avisaram que ele e mais 2 não voltaram de uma missão já faz mais de mês. É por isso que estamos aqui. Para investigar essa locação.

Regina examina a entrada e usa a manopla de seu traje para remover a neve da parede. Removendo a neve, a entrada se mostra trabalhada com um metal negro estranho com runas estranhas engravadas em algo verde. O verde pulsa em intervalos regulares. 

  • Ooookay – fala Klaus – Acho que encontramos uma base Invasora.
  • Muito bem, vamos adiante – diz Regina, apontando para frente e olhando a tela de sua manopla.
  • Capitã, desculpa incomodar, mas temos um runner morto aqui. Por que você acha que iríamos conseguir, já que ele não conseguiu? – Krys fala, ainda analisando o corpo e tentando remover o gelo e a neve do mesmo.

Regina se volta para Krys, bufando por dentro pela covardia da novata, mas ela precisa manter a compostura e a conduta de uma Capitã da UED. Ela se agacha perto de Krys e, mostrando a tela de sua manopla, que está identificando e rastreando o caminho à frente, olha para Krys e coloca a mão no ombro dela.

  • Ninguém vai conseguir além de nós, Krys, porque ninguém tem o que nós temos. Harmonia. – Ela levanta – Agora descubra por que ele morreu e se ele tem algum suprimento útil para nós. Klaus, o que tem aí do outro lado?
  • Parece um sensor de algum tipo, Capitã. Mas meu traje não consegue identificar seu propósito.
  • Deixa eu dar uma olhada – Regina se aproxima do sensor e começa a analisá-lo usando seu traje.
  • Capitã! – Diz Krys. – O Gump aqui foi morto por uma súbita explosão iônica que sobrecarregou o traje dele e fritou o cérebro. Energia não restou nada no traje, mas consigo remover o container externo e ver o que ele carregava. Só preciso derreter um pouco o gelo! – Nisso, um braço mecânico com uma pequena pistola de plasma se abre no traje de Krys e a pistola de plasma começa a derreter o gelo.

Regina, a Capitã do grupo da UED “Cerberus” para e pensa por alguns instantes. Ela olha o portal, o sensor e o corpo. 

  • Acho que sabemos o que aconteceu aqui, não? – diz ela.

Pelos alto falantes de Max ouve-se um suspiro. – Capitã, desculpa, mas a Cientista aqui é a senhora. Klaus ri – Porra Max, não dá uma de morgado. É simples.

  • A Entrada permite apenas invasores entrarem. – Diz Krys – O sensor ali analisa o sinal dos Invasores e libera a entrada. Quem não for permitido pelo sensor recebe uma descarga iônica. E foi isso que matou nosso Forrest aqui. 
  • Então não temos como passar – diz Max. Acabou por aqui.

Regina sorri por dentro da armadura blindada e puxa uma engenhoca da sua mochila. A Engenhoca parece um Detector de Ondas completamente modificado, com fios soltos, e um cabo que ela prende ao seu traje.

  • Não se eu puder resolver isso. – Ela diz, em tom sarcástico.

Ela puxa um segundo cabo que termina em uma bolita verde e começa a interagir com o sensor na parede. A Engenhoca faz um barulho esquisito, depois o sensor repete o mesmo barulho. Regina está em um cabo de guerra com o sensor para provar que ela e o resto dos runners são Invasores. Um minuto depois de trocas de barulhos e alguns xingamentos de Regina, o sensor finalmente cede à força da Cientista, piscando em vermelho. 

  • Podemos passar – diz ela, suspirando – Vamos, rápido.

Eles passam pelo portal rapidamente, seguindo pelo escuro corredor por vários metros. As luzes dos trajes iluminam as paredes rochosas que cada vez mais parecem com uma base dos Invasores, sendo substituídas por vigas negras de um metal alienígena, e depois, por outro portal, mas desta vez sem sensores. Após o portal, o piso começa a inclinar para cima, em uma subida levemente íngreme. Os runners seguem iluminando o local, andando lentamente, pois sabem que uma base de Invasores é mais perigosa que um exército de Renegados.

  • Essa merda dá medo – diz Krys, apontando com a lanterna o teto alto e cheio de entalhes em preto e verde.
  • Com certeza – responde Klaus – parece que estamos na porta do inferno encontrar Satanás em pessoa.
  • Quem tem cu, tem medo – fala Max, ajeitando seu Rifle pesado para iluminar o corredor atrás dos runners.
  • Calem a boca e andem, caralho – responde Regina.

Mais um portal adiante, também sem sensor (provavelmente o sensor era apenas para entrar na Base), eles se deparam com um grande corredor com piso, paredes e teto como se fossem tubos metálicos com placas verdes espalhadas aleatoriamente por toda extensão. No chão, poucos metros adiante, um pedaço de um braço de um traje Runner parece preso entre um tubo e outro, com a mão erguida para cima. Regina quando vê aquilo começa a caminhar. Então, Klaus segura seu ombro, a fazendo parar abruptamente.

  • O que foi, Klaus? Não está vendo que tem alguém ali preso?
  • Algo não está certo aqui, Capitã. Deixe eu tomar a frente.
  • Muito bem.

Klaus fica na entrada do corredor, pensativo. Ele vira para Krys e pergunta:

  • Alguma coisa no container do Traje do Gump?
  • Está aqui comigo, mas não abri ainda. Um momento. – Diz a garota

Krys abre a mochila do corpo encontrado antes e começa a remexer. 

  • Um container de energia Gama, Rações – Estragadas, Água, parece estar boa, 3 cartuchos de munição, um kit de sobrevivência pela metade, e um soldador de plasma, como o meu. Acho que dá pra aproveitar a bateria dele.
  • Ótimo, me passe uma das rações estragadas – diz Klaus.

Ele pega o pacote quadrado e os sensores de seu traje já emitem o cheiro pungente que vem dele. Uma voz aveludada e potente fala para ele dentro do Traje: – Alimento estragado, Klaus, recomendo não comer, não precisamos de mais um herói morto. – Ela diz.

  • Eu sei Tina, não se preocupe. – Ele fala baixinho para sua IA Companheira, enquanto arremessa a ração para dentro do corredor. 

No momento que o pacote toca no chão, uma grade laser se cria no exato local, cortando o pacote em 8 pedaços. 

  • Então foi isso que aconteceu com o dono daquele braço – Diz Klaus. Automaticamente os tubos parecem se mover fazendo o pacote cair entre os vãos, desaparecendo no chão. – Não podemos tocar o chão nem as paredes, nem o teto. Isso é uma armadilha que somente as Sondas, que flutuam, conseguem passar. 
  • Se temos que flutuar, então vamos flutuar! – Diz Max, tomando a frente, e ajeitando sua arma nas costas. Ele se posiciona perto do portal e aponta sua manopla para o outro lado do corredor, onde há uma parede. Com um “CLANK” se abrem 3 ganchos da manopla, mostrando o Arpéu que ele possui acoplado em seu traje. – Sabia que um dia ia ser útil, ri ele. O Arpéu é arremessado com força pelo traje até o outro lado da sala, se prendendo com firmeza na parede lá na frente. Max puxa com força o cabo de aço, testando a resistência do mesmo, e quando se dá por satisfeito, se segura no portal.
  • Vão! Usem o cabo e passem pelo corredor. Eu fico aqui segurando.
  • Entendido Max – Diz Regina. – Aguarde a gente voltar. Se algo acontecer, solte o cabo e volte pro nosso Aglomerado.
  • Entendido, Capitã – diz ele – Mas eu aguento bem mais que um mamute aqui. Vão. 

Um a um os runners se penduraram no cabo que Max segurava, agarrado ao portal, e começaram a cruzar pelo corredor tubular. Primeiro foi Klaus, depois Regina, e por último Krys. Com a ajuda dos servomotores dos trajes dos dois primeiros passam sem problemas, e o cabo segurou muito bem agarrado na parede oposta. Porém, Krys quase não consegue se segurar, pois o traje dela é específico para funções médicas e mecânicas e não têm muito torque, e a mesma, por pouco não encosta as pernas no chão, ficando dependurada.

  • Vamos lá Krys, você consegue! – Fala Klaus – Vem devagar que eu te espero aqui na ponta!
  • Eu to segurando aqui, Krys, você vai conseguir – Berra Max lá do outro lado da sala.

Krys, que estava tensa, pendurada apenas pelas mãos no cabo, começa a suar frio dentro do traje. Sua respiração começa a ficar ofegante. Os gritos dos seus companheiros da UED mal eram ouvidos, pois a cabeça da garota estava a mil por segundo. Milhares de pensamentos, tipo “Vou cair”, “vou morrer”, “novata burra” replicavam em sua consciência, e lágrimas começaram a correr pelo seu rosto. Ela estava a ponto de largar o cabo quando ouviu uma voz suave no seu ouvido:

  • Se olhe no espelho e me diga se você acha que a sua vida está em perigo,
  • Chega de lágrimas, garota! 
  • Você consegue! Se erga!

Ela reconhece a voz de Ozzy, sua IA Companheira, tentando acalmá-la. Respirando fundo, ela agarra firme e atira as pernas para cima, prendendo-as no cabo.

  • ISSO! Vamos lá Krys! – Berra Max

A moça de cabelos curtos e loiros, completamente ensopados de suor, força seus braços e seu traje ao máximo para cruzar os metros que faltam até ficar do lado de Klaus e Regina.

  • Muito bem, Krys – Diz Regina, colocando a mão no ombro dela. 
  • Nada mal pra uma novata. – Diz a voz vindo do traje de Klaus.
  • Eu vou aguardar vocês aqui – Diz Max. Se precisarem de algo, deem um berro!
  • Afirmativo, Max. – Responde Regina.

E os três restantes seguem pelo corredor a direita, mais uns 30 metros até encontrarem um grande salão. O salão era completamente bizarro, completamente preto com runas verdes pulsando em todos lugares, com um teto parecendo um domo. No meio da sala, um pedestal do mesmo material tinha sobre ele um estranho cubo da mesma cor preta que o metal invasor, porém, o interior que brilhava era dourado. Um barulho de “Humm” ecoava baixinho pelo salão e algo ao redor do cubo reluzia, como se houvesse uma bolha invisível protegendo o mesmo, mas a primeira coisa que os runners notaram eram as quatro Sondas Invasoras, cada uma em um lado da sala.

Klaus ergue sua metralhadora, mas Regina segura o braço dele.

  • Psss – ela fala baixinho – Elas estão desativadas.

Klaus olha as sondas e realmente. Não havia o famigerado brilho verde pulsando delas. Estavam estacionadas no chão, e ele jurou por um segundo que elas pareciam estar dormindo. 

Regina olha para os outros e aponta o cubo. Depois aponta para eles e com um sinal de mão, manda ficarem de prontidão. Lentamente ela começa a se mover na direção do cubo, até perceber as runas desenhadas no chão. Pareciam um padrão. Tudo ali tinha um padrão. Respirando fundo, ela pisa na única runa que não tinha visto até agora naquela base. 

Nada acontece.

Ela então pisa em outra runa igual, e novamente nada acontece. Devagarinho ela vai cruzando a sala, às vezes pisando de lado, outras saltando de uma runa a outra, até chegar de frente ao pedestal.

Klaus e Krys, do outro lado da sala, mal respiram. Armas em punho, eles estão focados entre mirar nos Drones parados e olhar sua Capitã fazer um balé com o traje blindado, até ela ficar frente a frente com o pedestal e o cubo. 

Regina diz baixinho: “Lemmy, libera o cano para fluxo de ar”. Um leve “Click” na cintura dela e ela puxa uma mangueira corrugada, com uma válvula na ponta. Apertando um botão na válvula, um leve jato de ar sai do cano, removendo toda poeira de cima do pedestal, mostrando diversos símbolos brilhando em verde e dourado. Ela então abre sua mochila e remove outro de seus aparelhos estranhos. Esse parece a mistura de um celular flip com um Medidor PK dos Caça-Fantasmas com duas antenas abaixadas. Ela liga o aparelho e começa a analisar o pedestal, o cubo, e os 20 cm de nada entre um e outro. O medidor volta e meia sobe as antenas e pisca como se o próprio ZUUL estivesse ali na frente dela. Regina sorri.

  • Acho que sei como resolver isso, Runners. – Ela diz, virando para seus companheiros.

Ela pressiona uma das runas e várias portinholas abrem dos quatro lados do pedestal. Cada uma delas com um tubo do tamanho de uma garrafa de coca-cola com um líquido verde brilhante dentro. – Células de Energia! – diz Krys, excitada – Caralho, tudo que precisávamos! 

Regina vira para Klaus e diz “Vem mais pra perto, Klaus. Preciso que tu pegue pelo menos uma ou duas dessas Células.” – Klaus, sem baixar sua arma, salta as mesmas runas que a Capitã saltou e se posiciona no meio da sala.

Regina lentamente remove um dos cilindros e guarda no seu container. Uma das luzes verdes do topo do pedestal apaga. Ela, ainda pisando nas runas corretas, vai até o lado e pega um segundo cilindro, jogando o mesmo para Klaus, que guarda em sua mochila. Uma segunda luz verde se apaga no topo do pedestal. Ela caminha até a terceira alcova e remove outro cilindro, lentamente. Uma terceira luz se apaga no pedestal e o “humm” cessa, com uma pequena faísca ao redor do cubo, como se a “bolha” que tinha ali se desfizesse. 

  • Desligamos o escudo que protegia o cubo – Diz Regina, arremessando o terceiro cilindro para Klaus, que joga para Krys. – Acho que precisamos deixar um deles funcional para que essa merda toda não dispare um alarme. – termina a Capitã, antes de voltar a ficar frente a frente com o cubo.
  • Agora, o prêmio principal – ela diz, sorrindo e suando bicas – Preparem-se para qualquer coisa!
  • Capitã – fala Klaus – Não acho uma boa ideia mexer nisso aí. Pode ser algo perigoso. Conseguimos células de energia. Deixa essa porcaria invasora aí.

Klaus, sabia Regina, era Purgador. Os Purgadores acreditam que devemos utilizar apenas o necessário de tecnologia Invasora e o resto deve ser destruído. Mas Regina era a Capitã, e ela que mandava nessa missão. Os apelos de Klaus caíram em ouvidos surdos.

Regina abre sua mochila e remove um saco pesado, que tinha amostras de minério que ela tinha achado durante a expedição. Ela analisa o peso do saco, concentrada, uma mão segurando o saco, a outra esticada perto do cubo. Alguns segundos se passam e ela abre o saco e remove duas pepitas do minério, fechando o saco novamente. Ela ergue o saco e faz ele saltar em sua mão, uma, duas vezes, analisando o peso. Klaus e Krys estão vidrados olhando para sua Capitã, suor escorrendo e armas em punho. Por fim, quando Regina acha que o peso e o tamanho estão corretos, ela move os dedos e rapidamente troca o cubo de lugar com o saco de minérios. 

Por vários segundos parece que o tempo para. Ninguém se move, e nada acontece. 

Regina então relaxa os ombros e se vira para os outros: “Acho que deu certo…”

Nesse momento o saco começa a vibrar rapidamente como se entrasse em fluxo e todas as luzes douradas do pedestal se tornam vermelhas, assim como todas as runas da sala. O “humm” de outrora vira um rosnado metálico como se um Tigre dentes-de-sabre robótico ecoasse por toda sala. O saco de minérios explode, atirando pedaços de metal para todos os lados, e as Luzes dos Drones começam a se ligar e os mesmos começam a se erguer do solo.

  • PUTA QUE ME PARIU! Manobra HELLRAISER!!! – Berra Klaus, apertando fundo o gatilho de sua metralhadora que estava apontada para um Drone. Junto com ele, a Submetralhadora de Krys cospe balas no mesmo drone, que não tem tempo nem de acender todas suas luzes antes de cair em um baque surdo no canto do salão. Regina começa a correr na direção da porta, aproveitando o ensejo de seus colegas, e puxando sua Ruger MK33 – uma pistola pesada que mais parecia uma Magnum 44 e se posiciona ao lado de Krys.

Os outros três Drones se erguem e seus canhões Laser começam a apontar na direção de Klaus. Regina aponta para Klaus e berra “Detona Tarantula, Klaus, AGORA” e começa a disparar a esmo para todos os lados onde tem sondas. Krys faz o mesmo, mas com a vantagem de mangueira de sua submetralhadora, consegue atingir melhor várias balas nas três sondas que parecem nem sentir o baque. Klaus, seguindo a manobra, caminha para trás, e arremessa uma Granada no meio das três Sondas. A granada explode enchendo de fumaça o local, impedindo a passagem e a mira laser dos Drones. Feixes de laser passam deslocados perto dos runners, sem atingir nenhum. “Se fodam aê, hahahah” – pensa Krys.

Os três colados no portão e se aproveitando da fumaça que impedia os Drones de mirar direito cravam seus dedos nos gatilhos de suas armas até acabar a munição. Em menos de 30 segundos todos os Drones caem, mas alguns feixes de laser acertam os 3 Runners. Nada grave, pensa Krys, mas ela vai precisar remendá-los antes de saírem fora dessa Base. 

Regina corre para um dos drones e puxando novamente a mangueira do seu cinto, ela conecta no meio do olho do primeiro drone caído. A mangueira começa a fazer um barulho e um líquido verde passa do Drone para o container dela.

  • Não é hora pra isso, Capitã! – Berra Klaus – Precisamos cair fora logo desse lugar.
  • Aos vencedores, as batatas! – Diz a capitã – Esse aqui não sai ileso e precisamos de energia.
  • Krys, vá pro cabo,  rápido!
  • Estou indo, Klaus!
  • Puta merda Capitã, vamos logo!
  • Já estou terminando aqui. Vá para o cabo você também Klaus. 
  • Mas, Capitã…
  • É Uma Ordem! Vá Runner!
  • Sim, senhora!

Quando Klaus chega no cabo preso com Max do outro lado segurando o mesmo, Krys já cruzou mais da metade do caminho. Pelo jeito a novata pegou o jeito de andar de cabo. Max grita “Pode subir também, eu seguro vocês dois!”

Klaus esperou um pouco até Krys estar quase do outro lado e se agarrou no cabo. Sem chance de ir calmamente, ele cruza as pernas e puxa o cabo com todas as forças para impulsionar seu corpo o mais rápido possível. Quando ele está quase na metade, um tremor faz todos, inclusive Max, balançarem. Max cai, quase derrubando o cabo e Klaus para o chão, mas Krys o puxa na hora exata, impedindo Klaus de cair. Quando Klaus está quase terminando de cruzar, a Capitã vira a esquina a toda velocidade. 

  • Regina, rápido! – Grita Krys 

Regina aproveita o impulso e salta o mais longe possível para dentro do corredor, se agarrando com força e habilidade no cabo de Max com uma mão (a outra segurando o cubo) que, auxiliado por Krys e Klaus seguram para que o cabo fique tensionado. 

  • Esse cabo não aguenta isso, Capitã!
  • Precisa aguentar, Max, o Salão lá atrás começou a desmoronar. Precisamos sair daqui o mais rápido possível.
  • Capitã, joga o Cubo pra cá que a gente segura, você não vai conseguir com só uma mão. 

Regina olha indignada para Klaus porque sabe que ele não gosta de artefatos dos Invasores, mas sabe que ele está falando a verdade. Ela arremessa o cubo, que cai nas mãos de Klaus.

Klaus quando pega o artefato imagina arremessá-lo no meio da sala, para que os lasers destruam essa merda antes que Regina leve essa bomba relógio para o Aglomerado deles. Mas com toda suas forças ele empurra pra longe esse pensamento. Dever com a UED primeiro, e Regina era sua Capitã. Quando ele ergue os olhos, ela termina de cruzar o corredor,  no mesmo momento que a parede oposta, com mais um tremor, cede soltando o gancho que cai no chão, e o cabo no corredor, o que faz dezenas de malhas laser retalharem o cabo em mil pedaços. Max desengata o que sobrou de seu arpéu da sua manopla e atira no chão. 

  • Vamos, debandada, runners! Vamos! – Berra Regina a toda velocidade, sendo seguida pelos outros três Runners.

Eles correm a toda velocidade, e quando estão descendo o corredor íngreme um grande barulho no teto faz Krys virar para trás. Do teto, uma Tarântula mecânica, uma das máquinas mais perigosas dos invasores, cai do teto bem nas costas deles, no início do corredor, e começa a avançar na direção deles.

  • UMA TARÂNTULA! – Berra Krys – PUTA MERDA PUTA MERDA PUTA MERDA!
  • CALA A BOCA E CORRE! – Berra Regina.
  • MAX, Granada! – Fala Klaus

Max, enquanto corre, puxa uma granada e arremessa para trás, na esperança de pelo menos atrasar a Tarântula. Se ele conseguiu reduzir a velocidade dela ninguém ficou olhando pra saber. Eles forçam seus trajes e correm o mais rápido possível saindo da passagem inclinada para o corredor principal.

Perseguidos pela Tarântula que antes estava a pelo menos 100 metros deles, mas sendo muito mais rápida começa a alcançá-los. Regina olha para frente desesperada e vê o Portão com o sensor. Subitamente uma ideia surge na mente dela. Aproveitando o excesso de energia que ela conseguiu do Drone, ela força ao máximo seus sistemas para correr até o lado do sensor, e berra “PASSEM LOGO”. Klaus, Max e Krys passam e ela dá 5 passos para trás, erguendo sua arma para a Tarântula, que está a menos de 10 metros dela. 

A Tarântula avança velozmente para cima de Regina com suas patas afiadas como lâminas gigantes, mas quando ela vai cruzar o portal, Regina vira o cano de sua arma para o sensor e dispara 3 tiros. O sensor entra em curto e o portão explode em energia Iônica. A Tarântula, no meio do portão, recebe uma carga iônica no meio das fuças e para a meio metro de Regina, circuitos faiscando e com as pernas tremelicando. Regina termina de descarregar sua pistola no meio da cara da tarântula até que ela para de se mexer. 

Com as pernas bambas, a Capitã começa a caminhar para fora da Base, pistola pendurada em uma mão, o cubo que ela pegou de Klaus na outra. 

“Eu não acredito que escapamos vivos disso” – pensou ela enquanto saía para fora da caverna. Porém o que ela não esperava era ver seus três companheiros com as armas largadas no chão, cercados  por pelo menos 20 renegados com armas primitivas e entre eles um… runner com uma escopeta apontada para eles?

  • Ora ora – Disse a voz metálica do Runner desconhecido. – Capitã Regina Hart. Você como sempre se mete onde não é chamada, mas dessa vez, vai custar caro para você.

Regina reconhece a voz. “Forrest Gump” – Ela diz. Ele abre o visor de seu capacete e sim, é ele mesmo. Forrest Gump, o runner desaparecido junto com outros dois. Ele sorri, rindo da cara de surpresa dela. 

  • Meus companheiros morreram na Base Invasora mas eu consegui escapar. Consegui um tratado com esses Renegados. Agora se me der licença… – ele estica a mão dele na direção do cubo. Regina olha para a mão, olha para o cubo e joga para Gump. Ele ainda rindo aponta para a pistola dela. Regina solta a pistola, que cai na neve. 

Ela olha os Renegados ao redor e depois se volta para Gump:

  • Uma pena que eles não sabem que você é pior que eles, Gump, você é um traidor de merda!
  • Ah, você poderia avisá-los, se soubesse a língua deles, Hart.

Com isso, Gump vira dramaticamente para os Renegados e ergue o Cubo alto para todos verem e diz “GADE, BONDYE MACHIN YO DEVAN OU!”. Há um murmúrio entre os renegados e eles se ajoelham. Gump sorri.

Neste momento um estampido ecoa na floresta. A cabeça de Gump balança, sangue voando para os lados e ele cai para o lado, com Klaus empunhando uma pistola leve fumegante em riste. Rapidamente, Regina pega o cubo e todos começam a correr. Os Renegados ficam aturdidos por alguns instantes sem entender o que está acontecendo, até que um deles se ergue e aponta para o grupo em disparada.

  • PRAN NOU!!! – Ele berra, e todos os Renegados começam a correr atrás dos Runners.

Em corrida, os runners se embrenham no meio das árvores cobertas de neve, para logo depois, tiros e lanças cruzarem por eles. Fugindo em disparada, os runners correm pelas árvores tentando alcançar seu objetivo. Logo atrás , um monte de renegados aos berros correm atrás deles, atirando lanças e disparando tiros, que por sorte não pegam neles. Eles correm por cerca de 5 minutos até sair da floresta, onde uma caminhonete está parada, coberta de neve.

  • Vamos, vamos! – Berra Max

Klaus entra e sobe no banco do piloto, tentando ligar a caminhonete. Os outros vão subindo o mais rápido possível. Nisso, os Renegados saem da floresta. Klaus consegue ligar o veículo e acelera. Vários tiros acertam a blindagem da caminhonete, mas os runners conseguem sair em disparada para longe dos Renegados.

Todos eles respiram aliviados dentro da Caminhonete, que começa a voltar para o seu Aglomerado. Krys, do banco de trás, remove o capacete do traje, e com uma cara de nojo diz:

  • Tarântulas, odeio Tarântulas…

As vezes

Publicado: 19 de abril de 2022 em Uncategorized

As vezes é complicado de abrir um espaço de fala. tantas pessoas sem voz, mesmo com a internet dando voz a todos. culpe quem quiser. culpe o machismo, o nazismo, o individualismo ou quem sabe ate os fãs enlouquecidos de algum famoso ou político.

o que quero falar aqui não da voz, mas a falta dela.

a voz dos homens que apanham das mulheres

(você achou que eu ia dizer o contrário? bem vou dizer)

da voz dos idiotas que batem em mulheres.

segundo estatísticas que não tenho a mínima ideia, tanto homens e tanto mulheres agridem seus parceiros pq não estão felizes.

é hora de acabar com isso.

“sejamos os caules da cerejeira, que balança mesmo com o vento abusado, mas ainda nos mantemos firmes

ninguém falou isso, inventei agora.

a dor de ser machucado é horrível. bem, eu passei por algumas. e sou homem. fui agredido e abusado por uma mulher que nunca percebeu o quão ruim era ( e talvez nunca perceba pq eu não fiquei perto pra tentar ajudar).

e muitas mulheres (e homens) passam por isso.

eu sei que é difícil

eu sei que ele ou ela promete mudar

mas mudança é ação não intenção

se a ação não muda, não tem intenção.

escapem de quem te magoa ou te machuca.

procurem a policia se necessário

fiquem salvas

Capitulo 1: Chegando no batente da morte.

Dentro de uma pequena sala quadrada, a força da nevasca lá fora era barrada por uma grande porta, um sólido bloco de aço e prata. Por décadas ela não fora aberta, mas hoje a resistência dela está sendo testada. A força de cinco criaturas, quatro humanos e um animal, lutam com ela pelo direito de partilhar seus segredos. 

Com o esforço, a porta geme indicando que a força aplicada por seus opositores a venceu, mas não completamente. Ela tranca na metade, mostrando que a idade ainda possui seus trunfos. Os cinco entram rapidamente na sala, empurrando a porta de volta para aplacar o frio da nevasca lá fora. A luz do dia desaparece dos seus olhos, deixando apenas um rastro nos olhos do pequeno animal aos pés de um deles. Eles olham ao redor, absorvendo aquele silêncio, esperando os seus olhos se acostumar à escuridão.

– Akane, luz mágica! – Berrou um deles, olhando para a única menina no grupo.

– Ah, era só o que me faltava, virou meu chefe agora, Kusanagui? – A voz feminina respondeu, cuja dona não devia ter mais de 15 anos. E completou – Você não manda nem nos teus bichos, vai querer mandar em mim?

– Akane, luz, faça o favor? – Outra voz, no escuro, trovejou. O tom cansado e ríspido tirou um suspiro da menina, que ergueu os olhos cor lilás e começou a encantação. 

– Raio de sol claro da manhã, traga-me seu brilho, Luz! – Um globo de energia mágica brilhou na mão da garota, iluminando seus longos cabelos roxos. Ela manejou o globo de luz para que este ficasse brilhando sobre seu chapéu.

– Pronto Joutaro – Ela disse, enrolando as madeixas com o dedo. – Não precisa ficar bravo comigo. – Continuou, com um sorrisinho bobo nos lábios. Mal teve tempo de montar a pose de “menininha carente” quando olhou para os lados e percebeu que o garoto para quem ela se ajeitou nem mais estava na sala.

Na sala quadrada que estava, haviam apenas duas passagens. A primeira era a porta de fora, a única coisa que separavam eles do inverno lá de fora. A outra passagem dava para uma sala maior e lá ela podia ver dois garotos olhando uma mesa de pedra. Se eles estavam entre quatro, isso significava apenas uma coisa… Como se para confirmar sua suspeita, ela ouviu uma respiração ofegante. Ela estava sozinha com o Kusanagui. E pelo cheiro forte de cachorro molhado, ele estava do ladinho dela.

Lentamente ela virou os olhos na direção ele, tomando coragem. O garoto, da mesma idade dela, cabelos verdes e bagunçados enfiados dentro de uma touca, mostrando o quão esquisito ele era. Ele não era feio, mas tinha uma cara estranha. Parecia sempre que estava feliz, com um sorriso de bobo na cara e olhos esbugalhados. Nos pés dele, Quasímodo, o seu Meek, que é uma mistura de cachorro com rato, parecendo um ratão peludo. Este tinha uma mancha clara em um dos olhos e era maior que os da sua espécie. Fora o Kusanagui, ela era uma das únicas na classe deles que tinha um Pet e parecia que ele a tinha tirado como sua “melhor amiga” por causa disso.


Quando o tempo pareceu voltar ao normal ele dá um sorriso idiota (e encabulado) e diz:

– Oi Akaneee! Tuuudo bem?

– EEEEeeeww! Sai de cima, Kusanagui! – Disse ela, dando um salto para o lado. – Ai que nojo. Agora eu vou feder a Meek!

– Ei, o Quasímodo não é fedido! Né garoto!? Bom menino! – Ele diz, passando a mão no Meek aos seus pés.

– Yp! Yp! – Respondeu o Meek, com a língua para fora e com seus grandes olhos negros fitando a bola brilhante acima da cabeça da feiticeira.

Na sala do lado, eles ouvem um dos garotos falar:

– Ô bando de inúteis, vão ficar aí se enroscando ou vão vir pra cá? – A voz atirada, sem nenhum tato era do Saito. Brigão, instigador e sem fundamento nenhum, ele agia como o líder do grupo. Vestia um Gi branco e vermelho, embaixo das roupas de frio, e tinha uma grande manopla dourada na mão esquerda. Junto com Joutaro, eram a linha de defesa do grupo. Joutaro com uma espada grande, ele com o “kung-fu”.

– Já-já-já estamos indo Saito! – Kusanagui respondeu – Vamos, vem Akane.

A menina baixou os olhos e seguiu quieta.

Entraram em uma sala grande, com uma grande mesa de pedra ao centro. O local, completamente destruído, tinha grandes blocos de gelo grudados na parede, neve pelo chão, pedaços que antigamente seriam de cadeiras ou armários estavam congelados e grudados no piso. A mesa, com uma crosta grossa de gelo completava o cenário. Na parede ao norte, tinha a única coisa diferente naquela sala: Um grande escudo redondo adornando a mesma. Nele, símbolos estranhos brilhavam com uma fraca luz azul, indicando a presença de magia. Joutaro estava olhando alguma coisa no canto da sala e Saito estava em cima da mesa, olhando o escudo. Quando Akane chega perto, ele aponta o escudo com o olhos, para ela:

– Consegue ler o que está escrito?

A garota se aproximou do escudo, passando por cima de um caneco quebrado. Ela olhou a primeira runa: Era uma linha dura, horizontal e de sua ponta uma curva dava a volta pela linha. “Ty”, ela disse, lembrando das aulas de Língua Antiga que teve no semestre passado, com o professor Blackrock. 

– Não importa a runa – dizia ele – importa o que ela quer dizer. Onde ela se enquadra.

Ela odiava aquelas runas! Olhou fixamente a primeira, esta  significava “Local”. Mas se ela estivesse ao lado da runa “Vol”, que significava “Tempo”, “Ty” significava “Ruína”. Mas se ao lado de “Vol” estivesse a runa “Char”(morte), “Vol” significaria “Cemitério”, ou no caso “Local que passamos a morte”. Tantas ideias, inflexões de uma língua que apesar de estúpida (na ideia da Akane), era a língua que moldava a magia, portanto que ela precisava aprender.

Ela olhou a runa posterior a “Ty”, era “Ni” – “Ordem, Grupo”, mas a terceira ela não conhecia. Pulou para a quarta “Fal” – Relacionado a milícias e exércitos… O que era a terceira? Ela não tinha certeza do que significava aquela frase. Se a terceira runa fosse “Shi” – “Fortaleza”, era algo previsível, mas não parecia muito com Shi. Parecia “Char”, mas escrita meio ao avesso. Se fosse “Char”, estaríamos com problemas. Passou o dedo nas outras runas, elas eram um nome. Respirou fundo e tentou recordar como se pronunciavam aquelas letras. Arregalou os olhos de sobressalto:

– HYSAN! Acho que está escrito: “Templo de alguma coisa da Ordem Militar de Hysan”. Estamos no local certo, pessoal! – Ela completou, abrindo um sorriso.

– Ótimo! E agora? Como seguimos adiante? – Kusanagui disse, cheirando o ar – Não passa vento nenhum aqui. Caminho sem saída.

– Eu estou vendo aqui, criatura! Mas é meio complicado de ler isso.

Joutaro, que estava em outro universo de pensamentos, volta por um momento à realidade que o cercava e fala – Pessoal, tem um corpo congelado aqui.

O primeiro a chegar é Quasímodo, o Meek fita o bloco de gelo e olha de volta esperando seu mestre. Kusanagui chega logo a seguir, se agachando. – É, durinho durinho. Será que ele foi algum explorador que procurava esse lugar há tempos? Será que tem alguma coisa para nos ajudar, tipo, uma chave em forma de caveira, para abrir uma porta secreta? Será que ele… – Kusanagui para por um segundo, quando ergue os olhos e vê Joutaro. Aquele olhar que dizia “CALA A BOCA” estampada no rosto do garoto fez Kusanagui sentir mais ainda o frio da sala, o que o silenciou.

– Não. Ele não esta carregando nada de útil. – fala por fim Joutaro. – Algumas peças de roupa destruídas, uma sacola em frangalhos e o que tinha nessas garrafas há tempos foi-se. Não tinha nem uma arma, acho que ele fugiu do frio lá de fora.

Frio, o gelo eterno das Montanhas do Osso era o que tinha lá fora. Uma região coberta de neve, assolada pelo gelo eterno do norte do mundo. As Montanhas do Osso eram assim chamadas pelo formato, pareciam as costelas de um gigante que jazia morto há tempos, formando espinhaços cobertos de neve e recheado de precipícios, onde um erro era pago com a morte. Lendas antigas diziam que ali era o local onde um grande demônio chamado “Gilgamesh” tombara após ser derrotado por um grupo de heróis. Seus ossos ficaram no chão e a energia liberada com a morte do demônio cobriu o vale com energia negativa. Assim, o local era frio como a morte.

Após alguns instantes parados, Akane vira na direção dos outros:

– Eu acho que sei abrir a porta, é uma questão de impostar energia. O escudo absorve energia mística, se eu aplicar minha força mágica na quantidade certa, acho que ele abrirá um caminho. – Ela inclinou a cabeça para o lado e encolheu os ombros – Pelo que deu para ler pelo menos. Estas runas são esquisitas, muitas delas eu não tenho ideia do significado. Provavelmente alguém escreveu errado.

– Certo! – Saito falou, sentando na mesa. – Está esperando o que? Um pedido formal em três vias? – Ele sorriu, debochado e ela cerrou os olhos, brava:

– Eu só estou explicando para os idiotas, que nunca iam sair daqui se eu não estivesse lendo estas runas! Seu grosso!

– Tá, tá – ele esbravejou – Desculpa. Vai lá, abre esse troço logo.

– Ela virou-se novamente para o escudo e colocou sua mão direita sobre ele, fechando os olhos em seguida. Segundos se passaram sem que nada ocorresse. Lentamente, um brilho azulado começou a surgir na mão direita dela, durando pouco mais de 5 segundos. Ela tirou a mão, com o rosto visivelmente cansado.

– Feito. – Disse ela, esbaforida.

– Feito o que? Falou Kusanagui, aproximando-se do escudo. – Nada mudou, não abriu porta, nem nada.

Como se em resposta à reclamação do garoto, um brilho azul tomou conta da sala, vindo do escudo. As linhas de escrita das runas brilhavam forte, iluminando toda a sala e um ruído como um “hummmm” tomou conta dos seus ouvidos. A mesa sob o traseiro de Saito começou a tremer e ele rapidamente saltou para fora, um mecanismo sob a mesa começou a fazê-la girar e se erguer, ao mesmo tempo que uma parte do teto se abriu. Em minutos o barulho e o tremor cessaram, deixando uma escada espiral feita de pedra no meio da sala.

– Está aí o teu “nada”, ô filho de um Adamantine. – Disse Saito, sorrindo. Ele chegou embaixo da escada e olhou o caminho. – Joutaro, veja se há armadilhas na escada.

Joutaro olhou para ele, cerrando os olhos – Mas eu não sei procurar armadilhas. Mande o animalzinho.

– Eei! O Quasímodo não sabe procurar armadilhas! – Replicou Kusanagui. 

– Eu estava falando de você, animalzinho. – Treplicou Joutaro.

– Mas eu também não sei procurar armadilhas – Terminou Kusanagui, com cara de triste.

Os quatro riram.

– Está bem, eu vou então. Mas não pensem que vai ficar assim, por nada. – Disse Saito, subindo a escadaria.

Se houvesse alguma armadilha, pensou Saito, ele era o mais treinado entre os quatro para esquivar ou aguentá-la. Joutaro era forte e tinha uma couraça pesada de aço entre ele e qualquer armadilha, mas couraças não aguentam magia forte. Akane pelo outro lado, era só assoprar que ela voaria longe, e Kusanagui… bem, vamos dizer que o rato era mais rápido, forte e esperto que ele.

Ele subiu o primeiro degrau, lentamente. Os ouvidos aguçados, o olho buscando qualquer movimentação na escada, bem como a Maginstra tinha ensinado. Mas era um ofício complicado esse de procurar armadilhas. Nessa hora ele lembrou de Selena. Se ela estivesse aqui, acharia qualquer armadilha rapidamente. Mas isso era assunto deles, envolver Selena mais do que já haviam feito era perigoso.

A escadaria não tinha armadilhas. Quando todos chegaram ao alto, depararam-se com um grande salão congelado. Runas feitas de energia azul brilhavam nas paredes e correntes desta mesma energia corriam pela sala, saindo do chão, da escada, espalhando-se por todo o lugar. Essa energia toda se encontrava em um outro escudo, no centro de uma porta de pedra. Joutaro respirou fazendo barulho.

– Esta muito mais frio aqui.

– Ora, eh claro que está – disse Kusanagui – Estamos dentro de uma montanha de gelo!

Joutaro inspirou com força – Eu quis dizer, que esta frio DEMAIS. Mais que o normal. Os espíritos reclamam do frio.

Kusanagui olhou para ele, pensando. Joutaro conhecia um pouco sobre espíritos, afinal, todo Samurai que se preze conhece o poder deles. Sabe que tudo tem um espírito, desde árvores, pedras e principalmente armas, e se colocam na posição de compreendê-los. Mas Joutaro não é um samurai, nunca foi e nunca pretendeu ser. Para ele, um braço forte e uma espada afiada são o que separa os que vivem e os que morrem. Porém, ele tem um talento natural para sentir espíritos e isso o colocaria como um candidato a se um Samurai, caso quisesse. Kusanagi não entendia por que Joutaro nunca se interessou nem em assistir uma aula sequer de conhecimento de espíritos. 

– Brrrrr – Akane tremeu os ombros – E o que mais eles dizem?

Joutaro fechou os olhos e se concentrou. Seus colegas se olharam e aguardaram. Poucos segundos depois ele abre os olhos e percebe que todos o estão olhando. 


– O que foi?

– Os espíritos, o que mais eles disseram? 

– Sei lá. Está me achando com cara de Samurai? 

PAF!

– Eeeei, tapa na nuca não vale Saito!

– Burro. Se tu estudasse tu ia saber.

– Quem falando em estudar? A Srta Mayumi não te deixa nem entrar na biblioteca!

– Ora, dane-se a Mayumi. Ela não vai com a minha cara.

– Livros não vão com a sua cara.

– … Ahn, meninos? – A voz era da Akane, tentando interromper a discussão, sendo solenemente ignorada.

– Heh, quem falando, pelo menos eu tenho aula sobre Ki. Tu só sabe apanhar e girar essa porcaria gigante aí que tu chama de espada.

– O que tu tá chamando de porcaria? Melhor que a mocinha que não é homem pra saber usar armadura, porque fica “desconfortável”.

– Meninos…? Estão nos cercando… – Ao ouvir isso, os dois param de sobressalto e olham ao redor.

O frio começa a coçar a pele dos quatro, como se dedos gelados os tocassem. Uma névoa gelada começa a cercá-los e de dentro dela saem quatro armaduras gigantes, negras, cobertas por crostas de gelo. Elas portam martelos vermelhos que chispam quando elas os balançam, conforme avançam lentamente em direção a eles

Kusanagui olha para os outros e grita “juntem-se!”. Ele começa a se concentrar, pensando em ponteiros de um relógio. Os ponteiros começam a ficar cada vez mais lentos, até que que eles param completamente no relógio da mente do garoto. Erguendo a mão ele solta a energia mágica, deixando o tempo mais lento para seus inimigos.

– Tempo, descanse e dê sua benção para os valorosos, LENTIDÃO! – Uma aura em forma de um relógio passa pelos quatro e eles percebem que as armaduras parecem estar mais devagar. 

Joutaro ergue a espada e corre na direção de uma das armaduras, que desce o martelo ferozmente na direção do garoto. Com o canto da boca, Joutaro sorri.

-<PLEIN>- O barulho seco ecoa no salão quando as duas armas se chocam com força.

– Acha que é mais forte que eu? – Ele resmunga, empurrando com força a espada para frente. A armadura dá um passo para trás, desequilibrada pelo empurrão. Ele aproveita e sobe na perna da armadura, levantando a espada acima da cabeça.

– Ninguém é mais forte do que eu! – Ele fala, batendo com força no meio da armadura, que cai para trás com um baque surdo, rasgada pelo corte da espada.

Dentro dela, não existia nada.

– São armaduras vazias! – Kusanagui fala, apontando para o nada dentro da armadura.

– Provavelmente Golens – Akane sussurra, enquanto começa a gesticular um feitiço. – Vamos ver se eles aguentam o tranco. Relâmpagos dispersos, juntem-se e ataquem com força! Raiga!!! – ela grita, e como se o universo gritasse de volta, relâmpagos formam-se pela sala e atacam as armaduras, eletrificando o ar com um zunido. As armaduras faíscam com a sobrecarga de eletricidade, balançando com o ataque, mas nenhuma cai.

– Minha vez!- Grita Saito, correndo na direção de uma das armaduras. Saltando alto ele gira o corpo, golpeando a armadura com um chute no meio do peito e a armadura, como já estava desequilibrada com o ataque anterior, cai no chão. Saito aterriza no chão e tenta rolar para o lado para esquivar do ataque de outra armadura, mas sem sucesso. Mesmo lento, o golpe o acerta no flanco, atirando ele para trás.

A última armadura avança sobre Akane e Kusanagui, que conseguem atirarem-se para os lados, fazendo a armadura golpear o chão com um golpe monolítico, que racha o piso. Kusanagui rola para o lado do Quasímodo, que rosnava baixinho. O garoto aponta para a armadura.

– Sua vez, VAI GAROTO! – Ele grita e o Meek não pensa duas vezes iniciando uma carga para cima da armadura. Uma aura de fogo cobre o pequeno roedor, explodindo com fúria e fogo na armadura, que cai fumegando. Quasímodo volta troteando, segurando um dedo de metal na boca.

– Ei, não! Não, Quasímodo, isso é ca-ca-ca! – fala Kusanagui, tirando o dedo de metal do meek, que geme, insatisfeito por ter perdido o brinquedo.

– Kusanagui, pára de fazer idiotices, o Saito precisa de uma cura! – Berra Akane, apontando o monge que rola de mais um ataque da última armadura ainda em pé. A armadura golpeia novamente mas, com um mortal para trás, Saito esquiva deste golpe também.

– Não precisa, esse já está morto! – ele diz, fechando o punho, que começa a estralar com energia do seu Ki. Ele ergue a mão para cima, preparando um ataque contra a armadura, que ergue o martelo. Repentinamente ela para e cai para frente, derrubando a arma no chão. Atrás dela, Joutaro está com sua espada erguida e nas costas da armadura, um rombo de lado a lado

– Sei, sei, você não precisa de ajuda. Daqui a pouco vai dizer que tudo estava indo como planejado. – Joutaro diz.

– Não precisava mesmo. E sim, estava tudo planejado. Mas tu tinha que se meter, estragando meu plano.

– Um obrigado já serve. – Joutaro sorri.

– Eu agradeço não te batendo. – Saito sorri de volta.

– Ai, que lindo o amor entre espécies – Kusanagui grita, aparecendo no meio dos dois. – Aiii não bate na minha cabeça! – ele diz enquanto se retira, depois de receber dois croques dos outros meninos.

As armaduras lentamente vão retornando ao estado de névoa, desaparecendo como se nunca estivessem existido naquela sala. Porém elas ainda deixam uma pista de sua existência e Akane pega o pequeno objeto que ficou para trás.

– Um fragmento de gelo – ela diz, analisando a pequena peça irregular completamente branca. – Vai ser útil quando precisarmos de magia de gelo.

Ela coloca o fragmento na bolsa e olha para os garotos. Os três estão olhando as paredes, as runas, as correntes e o grande escudo na porta… Provavelmente não entendendo droga nenhuma.

– Bem, temos mais uma porta. – Joutaro resmunga, virando-se para a menina. – Akane, usa magia nesse escudo aí também. 

-Ah – ela suspira, sorrindo para ele. Com passinhos rápidos ela cruza o salão e chega até a porta e o escudo. Por alguns instantes ela põe a mão no escudo, concentrando-se. Mas logo desiste, pensativa. Ela torna-se a olhar o garoto, com um sorriso triste.

– Eu queria, Joutaro. Mas eu acho que não vai funcionar. Não é a mesma coisa. Essas correntes, essas runas nas paredes. Tem alguma coisa diferente aqui. Alguma coisa… ruim.

– Bem… – Falou Saito, pendendo a cabeça para o lado – Mais um sinal que realmente estamos no lugar certo.

UED -Zombie

Publicado: 26 de novembro de 2018 em Uncategorized

Another head hangs lowly
Child is slowly taken
And the violence, caused such silence
Who are we mistaken?

But you see, it’s not me
It’s not my family
In your head, in your head, they are fighting
With their tanks, and their bombs
And their bombs, and their guns
In your head, in your head they are crying

The Cramberries – Zombie

A fumaça baixava lentamente nos corredores mal iluminados. Lady G tossiu, sentada no corredor de metal frio, enquanto segurava o ombro ensanguentado. A visão dela tremia, perdendo o foco pela perda de sangue. Ela se ergueu, lentamente.

Subitamente, barulhos de passos. Ela tenta erguer a espingarda, mas o braço não tem forças.

  • Merda – pensou.- Será que ainda tem um bastardo vivo? Não passarão! Nem sobre meu corpo morto!

A sua visão foca na pessoa chegando. Ela reconheceu Lud pelo cabelão grande e encaracolado, e sorriu. Seu corpo, já ferido e cansado cede finalmente a dor e stress. Ela desfalece, segurada por Lud.

Eles entraram sorridentes, cumprimentando a todos com apertos de mão e sorrisos abertos. Mensageiros de Abbey Road, um aglomerado distante. Vieram trocar suprimentos e trazer mensagens. Mas não eram runners. Eram apenas sobreviventes de um mundo ruim, como todos nós.

Eles beberam uma cachaça quente no bar do Shorty, comeram nosso pão. Contaram histórias de Abbey Road e dos perigos até chegarem aqui, em Vice. O ânimo das pessoas ao redor melhorava, sabendo que mesmo com todo frio, os renegados, os invasores, estávamos vivos e lutando. Uma vela no meio da escuridão. Eles foram descansar no dormitório, para conversar com a nossa Líder quando amanhecesse.

O Ninguém imaginava é que os mensageiros de Abbey Road não eram mensageiros. E sim uma força destacada para acabar conosco. Roubar nossos recursos, matar nossa gente. O amanhecer iniciou com o som de gritos e o gosto de sangue.”

A vida passa em um suspiro e começa e termina com um grito. Lady G acorda ouvindo seu próprio grito de dor. Ela abre os olhos, a luz clara ofuscando sua visão, e ela reconhece Lud e Cassi-O parados olhando para ela. Ela tenta se mover, mas Cassi-O coloca a mão sobre a testa dela:

  • shhh calma G.

  • Você está acordada, G! Que alívio! – Fala Lud, sorrindo. Um sorriso que mistura alegria e tristeza ao mesmo tempo. Um sorriso… torto.

  • O que… onde? – Lady G balbucia, olhando para os lados. Parece o dormitório dela, mas está irreconhecível. Bagunçado, quebrado, sujo.

Foi naquela manhã. Lady G foi acordada por uma explosão e pelos gritos vindo do corredor. Ela se ergueu velozmente e pegou sua espingarda. – Renegados? – foi o primeiro pensamento dela, enquanto recarregava a espingarda e corria até a origem da balbúrdia. Quando ela passa pela porta vê o corpos e o sangue, pintando os corredores como um quadro mórbido de um pintor insano. Ela corre na direção do salão comunal, passando pelos corpos de seus vizinhos e amigos. Ela, como runner já viu isso antes, já viu sangue, já viu corpos, mas dentro de sua casa era algo completamente novo e tóxico. Ela sentia a garganta apertar e a bile se retorcer, sentindo um gosto acido na garganta.

Seguindo a pilha de corpos, ela chega até o salão comunal. Pessoas correndo feridas, perdidas, de um lado para outro, sem saber pra onde ir. A fumaça e o fogo se espalhando pelas bancas de comida e roupa, o sangue espirrado pelas paredes e nos corpos estirados no chão. Ela então ouve mais disparos, vindos do Salão dos Líderes. Ela dispara adentrando em um corredor, ate chegar perto da porta da sala de reunião. De lá, sai Macy Hammer, uma das líderes do Aglomerado, aturdida, e com a roupa ensopada de sangue.

Os olhos das duas se cruzam por um instante. Macy mexe os lábios em um grito sem voz. O que ela disse? Lady Rose? Lady Road? Maybe Road? …Abbey Road…Merda!

Nisso, um dos mensageiros de Abbey Road sai atirando e a cabeça de Macy explode, seus miolos atingindo a parede do corredor. Lady G empunha a espingarda e atira, derrubando o agressor. Mas infelizmente ele não estava sozinho, e vários outros saem da sala atirando. No meio da chuva de balas, ela atira repetidamente em todos antes que um dos assassinos atingisse ela no ombro, fazendo-a perder o equilíbrio, e trazendo a escuridão.”

G. olha para Cassi-O e Lud, esperando alguma resposta. O olhar de medo de Cassi-O e a lágrima escorrendo pelo rosto sujo de Lud foram sua única resposta. Ela engoliu seco. O silêncio era estarrecedor.

  • E agora? – Balbucia Cassi-O.

G remove a mão de Lud de seu ombro, e tenta se erguer. A tontura vêm sem aviso, mas ela se força a ficar em pé. Escorando as costas na parede, ela puxa uma cigarrilha de ervas do bolso e acende, tragando forte o fumo.

  • Agora salvamos quem sobreviveu e lambemos nossas feridas. E que Lemmy seja meu juiz, mas o próximo que chegar na nossa casa vai levar um tiro na cara!

Uma mulher morena

Publicado: 18 de julho de 2018 em Uncategorized

Do alto de seu sapato e orgulho, ela caminhava. O vento forte dançava com seus negros cabelos, como se enroscados em uma milonga triste, mas arredia. Ao longe o barulho de carros e trânsito gritava a plenos pulmões, indicando a hora do rush. Mas dentro do parque, ela estava longe dessas incomodações. O que lhe incomodava estava dentro dela, rosnando dentro de seu coração, grunhido sentenças proféticas que abalavam aquela mulher morena.

Eis que assim, seu semblante mudara. Mulher que sempre teve um sorriso largo, que ria da vida, agora tinha os lábios cerrados como uma porta fechada. Ou um baú, que esconde segredos que não podem ser libertados para o mundo, pois assim teriam forma. Já bastava a forma em sua cabeça,
ela não precisava torná-los reais.

Por fim, como se acordasse de um transe, ela para. Então, lentamente sobe as escadas de seu prédio, indo para seu apartamento. A Milonga termina, deixando seus cabelos parados, como se abandonados pelo parceiro no meio do salão. Girando a maçaneta, ela é envolvida pela escuridão. Sombras projetadas pela luz da janela mostravam seu apartamento, limpo, impecável. Um sofá escuro tomava um dos cantos, sua poltrona preferida em outro. Ela não tinha Televisão. Sempre achou que era bobagem, pois preferia ir ao cinema, ou até usar seu notebook para assistir algo quando quisesse escapar da sórdida realidade que vivemos. Na mesa de centro, um vaso de orquídeas brancas, e um bilhete rasgado, um invasor em seu castelo, sua fortaleza da solidão.

Na penumbra ela caminha, agora lentamente, indo em direção ao sofá, deixando sua bolsa nele, como se jogasse fora um peso da alma. Ela olha as flores e suspira, balançando a cabeça, como se aquele triste ser vivo
enclausurado na terra estivesse conspirando com seus pensamentos para feri-la ainda mais. Virando de costas para esse assediador de ideias, ela abre a janela. O lusco-fusco invade sua casa, expulsando a penumbra e trazendo o cheiro calmante de camomila e erva cidreira, plantadas em sua janela. Ela se permite aspirar lentamente, como se a fragrância que entrava em seu corpo pudesse acalmar a balbúrdia que ela estava por dentro. Seus negros cabelos reencontram seu parceiro de dança, e a Milonga recomeça, agora mais lenta e sofrida.

Caminhando para a cozinha, ela toma nas mãos uma garrafa de 8 Ríos Cabernet Sauvignon, seu vinho preferido. Ela gentilmente abre a garrafa, suas ágeis mãos de finos dedos saboreando o toque do vidro cujo conteúdo, seria seu confidente esta noite. Ela serve uma taça, que já estava pronta sobre o balcão, como o soldado que passou o dia de prontidão, esperando o momento o momento que seu capitão dará uma ordem. E ordem dada é ordem cumprida. O líquido carmim jorra para o copo, enchendo-o, e sangrando parte do conteúdo da garrafa. Ah, se pudesse ser tão fácil assim com o coração dela, sair tudo de ruim que está ali dentro, copo por copo. Mas não, para aquela mulher morena, o sangramento é lento. Cada gota sai como uma farpa.

Lentamente, ela se senta em sua poltrona favorita, uma poltrona vermelha, macia, perfeita para descansar seu corpo, macerado pelo trabalho do dia. A taça na mão roga pra ser usada, e seu corpo obedece, ansiando pelo conforto do gosto inebriante que somente aquele vinho tinha. Ele adentra
delicadamente por entre os lábios dela, sorvendo um pensamento que tentara se formar quando os olhos dera pousaram sobre o bilhete rasgado. Ele continua a penetração naquele corpo, passando pela língua copiosamente, afagando-a com seu toque, ate por fim, descer para o fundo, agarrando qualquer mágoa que pudesse achar. A mulher morena esboça um sorriso.

Seus olhos de cigana obliqua e dissimulada disparam confidencias para a taça, sem esperar resposta. Sua mágoa, enclausurada em correntes de orgulho e confiança escapa, latindo e vociferando dores e medos. Ela sorve outro gole para tentar segurá-las, mas, no processo, um grito em forma de lágrima escapa de seu olho esquerdo. O vinho não fez o seu trabalho, alguém poderia pensar, mas ele sabe o que está fazendo. Logo mais uma lágrima escapa enquanto aqueles lindos olhos daquela mulher morena desabam em uma cachoeira de dor, medo, mágoa e arrependimento. É, o vinho sabe fazer seu trabalho.

Ela passa seus finos dedos por entre seu cabelo, e remove ele de perto de seus olhos, dois lagos profundos machucados pelas farpas que saiam por ali. Quando a taça jaz, por fim, drenada de todo seu conteúdo, ela termina de se entregar ao que ela sabia que sentia. O choro passa, como se soubesse que não precisa cortar o que já está completamente rasgado. A Mulher morena se põe de pé, e abrindo sua bolsa, tira de dentro um celular. Seus dedos, molhados e tremelicando dedilham pela tela, em um transe silencioso e ardido. Por fim ela solta o celular no sofá.

Na tela, uma única mensagem enviada.

“Ainda te amo…”

Do outro lado da cidade, em meio a um bosque altivo e silencioso, um celular não vibra.Desligado e dentro de um bolso qualquer, não pode avisar seu dono que tem um recado. E tampouco seu dono a leria, pois, cercado de terra e abaixo de 7 palmos, ele nunca saberá que ainda o ama, uma mulher morena.

Fabiano “Chikago” Saccol , criado em 12/12/2017

Ela quer sair.

– Só por algum tempo, logo já estou de volta.

Quantas vezes ouvimos isso com um filtro ligado?

– Eu vou e talvez não volte.

Quantas vezes uma dúvida vira paranóia?

– Eu vou. Mas não me espere mais.

E, puta que o pariu, quantas vezes a paranóia vira premonição?

(tempos depois) – Olha, isso não era para ter acontecido, mas aconteceu. Não volto mais.

 

Ela quer ir embora? Ou é só uma volta? Deixo ir, para que, se voltar é para sempre mesmo, e se não voltar, não era para ter sido?

Uma filosofia de boteco serve?

Muitas vezes sim, creio eu. Não sei se desta vez. Afinal, só o tempo vai dizer.

E no final das contas, é o que nos importa. Eu vou deixar ela ir.

E vou esperar ela voltar.

 

 

O Pedido

Publicado: 14 de setembro de 2010 em Contos

“O Pedido” por Fabiano “chikago” Saccol

 “Por favor, sente-se e fique a vontade, seu pedido vai demorar um pouco para ser atendido”- a voz metálica, cujo rosto era de uma mulher sintética, ecoava no salão quase vazio. Olhei para o sofá amarelo na parede e fui sentar, pensando em como o tempo passa rápido. Atendentes virtuais. Acabou-se o emprego das telefonistas e das secretárias, hoje quem atende são máquinas em uma tela de computador, ou como a que falou comigo, uma cabeça robótica com pele sintética.

 Olhei o relógio na parede, era perto do meio dia. O sol batia forte do lado de fora, e mesmo com a poluição que tapava a cidade com a cor cinza, o brilho amarelo ricocheteava nos vidros dos automóveis que cruzavam a avenida e iluminavam a sala na esquina em que eu me encontrava. Uma sala simples, não maior que quatro por quatro, que abrigava um balcão ocupado por uma sintética*, uma planta que mais parecia uma borracha do que uma planta, uma mesinha de vidro e o dito sofá amarelo, onde eu estava esborrachado. A porta de vidro minha direita dava para a rua, e a porta de metal minha esquerda ia para o interior da drogaria. Uma câmera acima da sintética, e a porta de metal reforçado me diziam que o dono dali tinha muito cuidado com seus pertences. O que não era de se admirar, pelo estado do bairro lá fora.

 Eu estava ali de passagem. Um evento Internacional sediado em São Paulo. Pessoas de todo o mundo estiveram ali no final de semana para discutir sobre Psiquiatria. No fim das contas, a mesma merda de sempre, para eles as drogas são a solução para tudo. Nada de novo no reino da psicolândia. A única coisa que teria feito meu final de semana foi aquela ideia de máquina dos sonhos. Fui la apenas por isso. Se funcionasse, seria a minha passagem para o topo… Olhei para a sintética. Os olhos verdes artificiais me olharam de volta, com a profundidade de uma poça d´água e a frieza de um iceberg. Odeio essas latas. Lá fora, ouço o barulho de uma batida de carros. Freada, choque, porta abrindo. Nada mais comum. Abri minha mochila e achei meu netbook dentro, e no momento que eu puxo ele, a Sintética vira-se para mim com aquela voz metálica – “Temos as últimas edições dos jornais e revistas na nossa wlan, fique a vontade, seu pedido vai demorar mais um pouco para ser atendido.” – após isso, ela volta novamente a cabeça para encarar a porta de vidro.

 Enquanto o Netbook carrega a Wlan da drogaria, eu ouço uma acalorada discussão lá fora. Provavelmente os da batida. Daqui a pouco começa a briga, e quem sabe, o tiroteio. As pessoas cada vez mais ficam sem noção da violência que causam. Antigamente se acontecia uma briga era algo incomum. Hoje, se não morrer um, incomum. Parece que ficamos acostumados com a violência. Na 3DTV passa todos os dias quantos morreram e quantos mataram pelo mundo, noticias bizarras  que, se antigamente nos apavorava, hoje é trivial.

 “Morreram dezenas em deslizamentos”- Todos os meses.
 “Bala perdida mata criança”- toda a semana.
 “Jovem confundido com traficante é morto”- todos os dias. Nada mais nos choca. Estamos acostumados.

 A discussão fora continua. Parece que ninguém morreu até agora, mas mais vozes se juntam a discussão. Nem perco tempo para olhar. O Netbook carrega as noticias e jornais do dia. Meus olhos doem quando eu começo a ler. Vista cansada, acho. Ler todos os dias vai acabando com a vista. Eu aumento a resolução para reduzir o esforço. As noticias são as mesmas de sempre:

 “Corrupção Esquerdista acaba em pizza!”
 “Esquema de corrupção da Direita”
 “Homem morto em quarto de hotel”
 “Protesto de estudantes acaba com 60 feridos e 12 mortos”
 “Criança mata outra com a arma do pai”

 O de sempre. Coisas que não nos importam, pois não podemos mudá-las, mas a mídia distribui como coisas importantíssimas. Como jogar moedas para os pombos comerem.

 Minha mente volta para ontem, para a máquina dos sonhos. Um conceito simples, mas muito eficiente. Se a mente como um Drive, ela pode ser acessada externamente. Um simulador virtual simples, que conecta o paciente e o médico. Ali ele conseguiria acessar o centro do problema do paciente, e, segundo o criador, talvez mexer na memória dele, como se fosse uma cirurgia, como se removesse um câncer. Eu até sentei naquela merda, e a única coisa que vi foi o idiota ligando a máquina e dizendo “OOPS, acho que deu um bug no Sistema Operacional, desculpe”. Perda de tempo. Fecho as notícias e começo a mexer no netbook. Na pasta de fotos, estão minhas fotos do evento. Começo a olhá-las. A entrada do Evento, Os estandes, a praça de alimentação, algumas mulheres bonitas comendo, o telão com propagandas, mais mulheres, mais estandes, a máquina dos sonhos mais fotos da máquina dos sonhos… até que uma coisa me chama a atenção. Na foto última foto, um sujeito esquisito olhando para mim, cabelo preto, óculos redondos, relógio dourado. Alguma coisa na minha mente estala. Eu volto algumas fotos ata praça de alimentação. Na mesa ao lado das meninas, o mesmo sujeito. Meu coração começa a bater mais forte, e a cada foto que eu passo, lá está ele. Me olhando. Me analisando. O cara com os óculos redondos e relógio de ouro. Quem esse cara? Minha boca fica seca, enquanto eu continuo encarando aquelas fotos, aquele homem. Quem ele? O que ele quer comigo? Alguma coisa no canto do meu olho me chama a atenção, dentro da minha mochila.  Eu boto a mão nela, e pego o crachá de entrada do evento, mas o que chama a atenção é um pendrive que estava pendurado na corda do crachá. Um pendrive na forma de um cachorro cinza com algumas marcas de uso.

 Mais o mais importante, é que aquele pendrive não é meu.

 Começo a ouvir o barulho de sirenes lá fora e o burburinho parece que diminui. A polícia deve estar chegando pra acalmar os ânimos dos idiotas que bateram os carros. Provavelmente eles vão chegar, botar respeito, dar uns tapas, pegar uma propina do mais otário, ou dos dois otários e cair fora. Nada mais do que estamos acostumados. A diferença entre a polícia e os bandidos é o distintivo. Cada um joga como pode, e os policiais estão no campo. Se o cara não é corrupto, ou morre de bala, ou morre de fome. E o mais engraçado é que os bandidos também tem apenas essas opções.

 Eu olho para a sintética novamente, mas desta vez ela não em olha de volta. Coço a cabeça e lembro da pendrive na minha mão. O sistema dá um aviso que tem que instalar a pendrive, e alguns instantes depois, abre a pasta. Por alguns instantes meus olhos arregalados congelam naquela janela, meu cérebro tentando processar o que vê. Três Pastas. Fotos, Máquina dos Sonhos e Márcio Pereira. O que meu nome fazia naquele pendrive? Eu abro a pasta com meu nome, meu coração acelerado batendo no meu externo como se fosse um martelo. Naquela pasta, um arquivo:

 “Relatório Médico 55489.PDF”

 Eu jsabia o que tinha naquele arquivo. Era meu arquivo médico, o arquivo do meu psiquiatra. Minhas conversas, meus problemas, meus erros, meus sintomas. O espelho do meu problema. O coração já é uma uma marreta, um bate estaca no meu peito, a boca, que jestava seca, agora um deserto. Eu volto uma pasta. Fotos. 10 fotos. Todas minhas, ou melhor, eu estou em todas. Eu olhando uma estande, eu almoçando. Eu conversando com uma moça. Na penúltima foto, eu mexendo na máquina dos sonhos e conversando com o idiota, dono da máquina. Nesta foto, um detalhe salta na tela. A pessoa que bateu a foto colocou o relógio no lado para mostrar as horas.

Um relógio dourado.

 Por que aquele cara  estava me observando? O que meu relatório médico fazia na mão dele? Por que a pendrive estava na minha mochila? Minha mão, já tremendo, clica para ver a última foto. A mesma foto minha na máquina Não, não é a mesma. Eu volto na foto anterior. O relógio marca 12:45, e na última, 15:55. Como assim? Eu fiquei menos de dez minutos naquela estande. Minha cabeça lateja, como se o bate estaca do coração resolvesse bater na minha testa. Como as fotos mostram que eu fiquei três horas? Minha cabeça dói mais ainda. O que estava acontecendo? Neste momento, a sintética vira para mim e começa a falar:

– “Senhor, houve um problema com o seu pedido de thorazina.”

– “Como assim?”- Eu respondo meio grogue. – “Ele não está pronto?” -eu questiono.
– “Sim senhor, ele está pronto.” – ela responde. Mas como se houvesse malícia naquela voz metálica, ela completa “Mas o pedido é para o senhor Márcio Pereira.”
– “Sim, eu sei, sou eu.”
– Os olhos da sintética brilham como se uma faísca de maldade rompesse por aqueles olhos -“Segundo o relatório 55/48-9 da Polícia de São Paulo, Márcio Pereira morreu ontem a noite, 21:45 no hotel que estava hospedado. Um homem caucasiano, cabelo preto, usando óculos e não identificado , saiu do quarto dele as 21:50 carregando a mochila do morto”. A voz fria me responde, como se estivesse sorrindo. “Peço que o senhor largue a mochila, e saia pela porta da frente com as mãos para cima, que a polícia está lá fora lhe aguardando.”
 
 Sem aviso, três policiais entram na sala e me agarram. Dois deles me seguram pelos braços e cabeça e me jogam no chão, de costas. Eu tento me soltar mas eles são bem mais fortes.

– “caras, me larguem, o que é isso!” – eu grito, mas em vão. Um deles me dá um soco na cara, e agarra meus braços colocando algemas. “cala a boca, matador” – O terceiro fala, enquanto pega as minhas coisas. Eles me seguram pelos braços e me arrastam para fora. Lá, 2 carros de polícia, e mais uma multidão está me esperando. Fotos são tiradas, pessoas gritam, enquanto eles me carregam para a viatura. Quando me atiram lá dentro, eu ouço o terceiro guarda falando com o que estava lá fora esperando: “Ele estava com a mochila do morto. Aqui dentro tem uns cds, um netbook, Um óculos e um relógio de ouro sujo de sangue enrolado em uma camiseta.”

 Eu sou levado para a cadeia como assassino. Me atiram em uma cela, e alguns meses depois eu sou julgado. Dizem que meu nome é Carlos, que eu matei o Márcio para pegar a receita dele de thorazina. Histeria, alucinações, doença mental. Pedi para mostrar minhas fotos, para mostrar o cara de óculos redondos me seguindo. Ninguém deu bola. Meu advogado, um defensor público, mal perguntou meu nome e olhou minha cara. Me chamaram de maluco. Sou considerado culpado de assassinato premeditado. 20 anos. Colocaram-me em uma instituição para doentes mentais. Ninguém veio falar comigo. Nenhum amigo, nenhum parente.

 Mas eu sei quem eu sou. O que eu não sei é o que aconteceu naquele domingo. Naquela máquina. Quem é o cara de óculos redondos? E o Carlos? São a mesma pessoa? Por que dizem que eu sou ele? Porque o relógio dele estava na minha mochila? Porque eu fiquei 3 horas naquela máquina. Eu não sei. Mas eu preciso descobrir, ou não me chamo Márcio.

Tudo que inicia, começa por algum lugar.

Publicado: 14 de setembro de 2010 em Uncategorized

E inicia com apenas uma palavra:

Sonho